terça-feira, 14 de novembro de 2017

Para DESCOBRIR: #Breve reflexão sobre a GASTRONOMIA BRASILEIRA

  Olá pessoas queridas!

       Você sabia que a gastronomia brasileira nasceu com a primeira integração da culinária portuguesa com a indígena, mesclada à cozinha africana? Confira agora mais detalhes sobre como tudo aconteceu!
Desejo a todos boa leitura!





As influências de vários povos e a exuberância da natureza criaram uma diversidade regional surpreendente no país com fartura de sabores e saberes que foram adquiridos ao longo do tempo.

Freixa e Chaves (2012) contam que em 22 de Abril de 1500, após 44 dias de viagem, a frota de Pedro Alvares Cabral, composta por 13 navios chegaram ao local que primeiro foi chamado de Ilha de Vera Cruz. 

Pero Vaz de Caminha, escrivão da expedição de Cabral buscou descrever o que foi encontrado nessa nova terra na carta-reportagem ao rei de Portugal, D. Manuel, e conta a primeira reação que os indígenas tiveram com os hábitos alimentares dos portugueses, bem como a relação ao modo de vida e de alimentação dos homens desse lugar:

Os dois primeiros que índios que foram levados à Nau Capitania para experimentar as comidas portuguesas não gostaram de nada. Se algumas coisas provaram, logo as lançavam fora. Mostraram-lhes um carneiro, não fizeram caso dele. Mostraram-lhes uma galinha, quase tiveram  medo dela, e não lhe queriam pôr a mão. Depois a pegaram, mas muito espantados. Deram-lhes ali de comer: pão e peixe cozido, confeitos, fartéis, mel e figos passados. Não quiseram comer daquilo quase nada. E se provavam alguma coisa, logo a lançavam  fora. Trouxeram-lhes vinho em uma taça; mal lhe puseram  a boca; não gostaram  de  nada, nem quiseram mais. Trouxeram-lhe água em uma albarrada, bochecharam-na e lançaram-na fora. ( Cortesão, 1999).

Assim, esse choque cultural entre os portugueses e a população indígena que aqui vivia no Brasil, mostra que os indígenas já haviam desenvolvido seu próprio meio de sobrevivência e sua própria cultura alimentar:

Eles não lavram, nem criam. Não há aqui boi, nem vaca, nem ovelha, nem galinha, nem qualquer outra alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Não comem senão desse inhame que aqui há muito e dessa semente e frutos, que a terra e as arvores de si lançam. (Leal, 1998).
                                                

O alimento chamado pelos portugueses de inhame, na verdade, tratava-se da mandioca que era o alimento bastante consumido entre os habitantes, com a qual faziam farinha e beiju. Os peixes eram um dos alimentos favoritos dos indígenas, sendo cozidos ou assados. 

O condimento essencial para o índio era a pimenta que também se constituía em alimento isolado, sendo apreciada com a farinha. Alguns indígenas obtinham o sal pela retenção da água do mar e outros pela queima de terra salitrosa.

Leal (1998) afirma que as populações indígenas que habitavam o território brasileiro vivam em grupos, pescavam, caçavam e coletavam. Não tinha o hábito de plantar frutas, apenas colhia o que a natureza lhe oferecia fartamente. 

As refeições não tinham horário fixo: os índios comiam quando sentiam fome. Eles conheciam também muitas ervas medicinais. Esse conhecimento é utilizado até os dias de hoje pelos fabricantes de remédios.



Como instrumentos de cozinha, o índio usava panelas, espeto e moquém, uma espécie de grelha que colocava sobre o fogo baixo, para assar o que seria conservado, afim de evitar o apodrecimento.

O índio apreciava bastante as bebidas e sabia fabrica-las a partir da fermentação da mandioca, do aipim, da batata-doce e do milho, no entanto, desconheciam naquela época, as bebidas do tipo refresco, em que a fruta e espremida e misturada com água.

Sobre o primeiro século após o Descobrimento do Brasil, Hue (2009) conta que diversos testemunhos de padres, senhores de engenhos, humanistas, cronistas, corsários e viajantes franceses, alemães, ingleses, espanhóis e portugueses, através de escritos, alternam-se de episódios de fome e abundancia:

Embrenhados em sertões pela primeira vez trilhados por europeus ou em longas e acidentadas viagens marítimas pela costa brasileira, nossos primeiros cronistas, principalmente os padres da Companhia de Jesus e os homens do mar, sofriam com a escassez de víveres, com as doenças tropicais e com a fome absoluta. Outros, ao narrarem a vida cotidiana nas aldeias indígenas, nas vilas colonizadas e nas abastadas fazendas dos senhores de engenho, descrevem uma abundancia e diversidade de caça, animais domésticos, peixes e plantas que espantavam os europeus, que nunca tinham experimentado tanta fartura. É entre esses dois polos que se divide a alimentação brasileira dos primeiros tempos: entre as comidas difíceis de engolir, ingeridas por pura necessidade, faustosos banquetes senhoriais e as frescas e saudáveis refeições dos homens comuns.

Hue (2009) explica que essa alternância entre fome e fartura indica dois tipos de vivência: A primeira se dá em uma terra em permanente tensão entre colonos, índios e viajantes estrangeiros, ou ainda nas agruras vividas no mar e nas viagens por matos desconhecidos e inóspitos. 

Havia fome também nos primeiros tempos de vilas que depois seriam ricas e bem abastecidas, como Salvador, São Vicente e Piratininga (São Paulo). Os que não estavam em busca de almas, mas de mercadorias ou apenas de comida, tinham mais facilidade em conseguir provisões. Como exemplo, as negociações do piloto italiano Antônio Pigafetta que ao narrar a passagem de Fernão de Magalhães pelo Brasil em 1520, relata como foram fáceis e vantajosas as negociações com os índios quanto a provisões de alimento:

Trocaram anzol por cinco galinhas, um pente por dois gansos, um espelho por peixe suficiente para alimentar dez pessoas, um cinto por um cesto de mandiocas, e por uma carta de um rei de ouros, cinco galinhas.

Leal (1998) afirma que os portugueses trouxeram ao Brasil animais como bois, vacas, touros, ovelhas, cabras, carneiros, porcos, galinhas, patos, gansos e outros que criavam nos quintais e currais que faziam em suas fazendas.  Além disso, foram os responsáveis por plantar uma enorme quantidade de frutas, legumes, vegetais, cereais e temperos.

Segundo Cascudo (2004) a culinária africana introduziu ao nosso cardápio, o quiabo, o caruru, o inhame e suas diversas variedades, a erva-doce, o gengibre- amarelo, o gergelim, o amendoim africano, as melancias e o azeite de dendê.




A gastronomia brasileira nasceu com a primeira integração da culinária portuguesa com a indígena, mesclada à cozinha africana, mas tendo um forte domínio do colonizador sobre os demais.

Freixa e Chaves (2012) afirmam que o prato símbolo da gastronomia brasileira é a feijoada. Sobre esse aspecto, Cascudo diz que ao contrario do que costumamos ouvir, a feijoada deriva dos cozido típicos da Europa, feitos de feijões-branco, favas ou grão-de-bico, como o cozido português, o puchero (cozido espanhol) e o cassoulet (cozido francês). 

Uma grande evidencia sobre esse fato é que a comida dos escravos era pobre em nutrientes. consumiam uma mistura rala de feijão com farinha, às vezes com pedaços de carne-seca ou toucinho.

É desconhecido quando e onde se fez a primeira feijoada no Brasil. No entanto, diferentemente da feijoada europeia, foram incorporados na feijoada o feijão-preto no cozido, além das partes do porco, linguiça, paio, acompanhada de farofa, couve e laranja cortada em rodelas.

Com o decorrer do tempo, técnicas culinárias foram desenvolvidas e com o surgimento da globalização, novas tendências e ingredientes foram inseridos a esse meio e influenciaram a gastronomia brasileira, trazendo preocupação quanto à continuação da tradição no preparo dos pratos, segundo Mendes (2014), ao mesmo tempo em que há essa preocupação, também se observa um movimento de grande inovação na culinária. 


Sob esse aspecto, Mendes (2014) afirma que muitos pratos têm sido recriados, de acordo com as possibilidades locais, dando origem a novas interpretações. Salienta-se que as mais variadas culturas evoluíram dentro de um equilíbrio alimentar próprio, o que demonstra que suas escolhas revelaram uma sabedoria apreendida através de gerações.

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Abraço,

Jeiane Costa.
jeianecosta.novel@outlook.com

www.portalolhardinamico.com.br

Você pode gostar de ler:



Créditos especiais:
ABREU, Edeli Simoni de Abreu; VIANA, Isabel Cristina; MORENO, Rosymaura Baena; TORRES, Elizabeth Aparecida Ferraz da Silva. [artigo] Alimentação mundial – uma reflexão sobre a história. Saude soc. Vol. 10 nº2 São Paulo. Aug./Dec.2001
BRAGA, Vivian. [artigo] cultura alimentar: contribuições da antropologia da alimentação. Saúde em revista. Disponivel em:<www.unimep.br/phpg/editora/revistaspdf/saude13art05.pdf>. Acesso jun 2015
BURITY, Ana Leticia. [dissertação] Culinária maranhense: a Identidade Alimentar na capital do Maranhão sob o olhar dos frequentadores das áreas turísticas. 2014.
CARVALHO, João Renôr Ferreira de. Ação e presença dos portugueses na Costa Norte do Brasil no século XVII – a guerra do maranhão.  Teresina: EDUFPI, e Ethos Editora, 2014.
CAVALCANTI, Pedro. A pátria nas panelas: historias e receitas da cozinha brasileira. São Paulo: ed. Senac São Paulo, 2007
DAMATTA, Roberto. O que Faz o brasil, Brasil. Rio de janeiro: ed. ROCCO, 1986.
FRANCO, Ariovaldo. De caçador a gourmet: uma historia da gastronomia. Ed SENAC São Paulo. 2010
FREEDMAN, Paul. A historia do sabor. organizador; tradução de Anthony Sean Cleaver. – São Paulo: Ed. Senac São Paulo, 2009
FREIXA, Dolores; CHAVES, Guta. Gastronomia no Brasil e no mundo. 2 ed. 2 reimpr. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2012
LACROIX, Maria de Lourdes Lauande. A Fundação Francesa de São Luis e seus mitos.
LEAL, Maria Leonor de M.S. A historia da gastronomia. SENAC. DN. Rio de Janeiro. Ed. Senac Nacional, 1998
LIMA, Zelinda Machado de Castro. Pecados da gula: comeres e beberes das gentes do Maranhão. 2 ed. Amp. – São Luis: instituto Geia, 2012
MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. Tradução de Leticia Martins de Andrade. São Paulo: Senac São Paulo, 2008
imagem 2. Disponivel em: <http://www.voltairenet.org/article123357.html>. Acessado em: 14.11.17
imagem 3. Disponivel em: <https://www.uai.com.br/app/noticia/gastronomia/2016/09/13/noticias-gastronomia,184068/livros-apresentam-um-caleidoscopio-da-culinaria.shtml>. Acessado em 14.11.17

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